Quando não chega à livraria no horário de costume, Marisa Vasconcelos vai logo brincando com os funcionários, pedindo para não cortarem seu ponto. Freqüentadora do Café com Letras, a professora aposentada de 69 anos acredita que o ambiente de uma livraria faz toda a diferença. "Nas lojas pequenas, não tem aquela coisa de mil atendentes cercando você, a gente fica mais à vontade para olhar tudo. A relação é mais pessoal, você sabe quem trabalha lá, conhece outros clientes, conversa sobre livros. As livrarias dos shoppings parecem supermercados", compara. A relação afetiva de leitores como Marisa com livreiros e suas pequenas lojas vem ficando cada vez mais rara. Crises econômicas, baixas vendas, má administração e concorrência predatória são alguns dos motivos que levam uma livraria a fechar as portas. Ao longo das décadas, Brasília amargou a perda de diversos pontos de referência cultural – a Casa do Livro e a Livraria Presença são apenas dois bons exemplos. Entre mortos e feridos, as independentes continuam – mesmo que, entra ano, sai ano, uma delas não prossiga no mercado. "O advento das lojas de grandes redes deu uma baqueada nas livrarias menores. Elas conseguem barganhar descontos com os distribuidores que são impraticáveis para nós", aponta Samuel Arantes, 28 anos, administrador da Cotidiano Livraria de Conveniência. "Ninguém agüenta a competição. O mercado no qual trabalhamos é coisa de Dom Quixote", afirma Luíza Martins Neiva, 53, proprietária do Café com Letras, fazendo referência ao cavaleiro da triste figura que enfrentava moinho de vento. Se no quesito preço as grandes levam vantagem, as pequenas se diferenciam em outros aspectos. Acervo e atendimento são dois dos mais prezados pelos clientes. Proprietária do Rayuela Bistrô, Juliana Monteiro, 30, cita o exemplo de livros publicados por editoras alternativas, que muitas vezes não chegam às lojas maiores: "Há dois anos, eu estava atrás de obras de autores latino-americanos. Tive um título específico na loja, vendi e depois não encontrei mais em nenhum lugar. Como eu escolho o que entra na livraria, dou preferência a livros de giro mais lento, que podem até demorar a sair, mas um dia serão comprados", explica. A comodidade de ir a uma livraria longe do ambiente movimentado e barulhento dos shopping centers é outro ponto positivo das lojas de quadra. "Vendi muito bem na época do Dia dos Namorados. As pessoas entravam, escolhiam rapidamente –até porque minha loja é menor –, pagavam e iam embora", lembra Márcio Castagnaro, 36 anos, dono da Dom Quixote.
Fino atendimentoNa avaliação de Cida Caldas, 44 anos, proprietária do Sebinho, muitos de seus vizinhos da comercialda 406 Norte (área que se notabilizou pela concentração de livrarias) poderiam ter continuado na ativa. "Acho que falta gente entendida do assunto para trabalhar nas livrarias", aponta. Seus funcionários, por exemplo, são alunos do curso de Letras na Universidade de Brasília. "Notamos que o atendimento faz a diferença. Se o cliente for fidelizado, não vai nos trocar por umaloja de shopping", aposta. Tradicional ponto de venda de livros usados na cidade (há 22 anos no ramo), o Sebinho vem gradualmente procurando novidades para atrair a clientela. Parte de seu subsolo é usado para atividades culturais (palestras, cursos) e obras novas já podem ser encontradas nas prateleiras. "Percebi que se eu não tivesse um livro novo na loja, as pessoas comprariam em outro lugar", reconhece.
"As livrarias têm de encontrar seus nichos", arrisca Samuel Arantes, da Cotidiano – cujo destaque é o acervo de psicologia, história e filosofia. A loja também oferece serviços de cafeteria, cyber café e papelaria. "Nosso carro-chefe são os livros, mas eles são apenas 55% da loja", avalia.
O Rayuela, que começou como café e livraria, expandiu e hoje abriga também um restaurante. "Nossa intenção inicial era viabilizar a livraria com o café, mas vimos que não daria certo desta forma", acrescenta Juliana Monteiro. Luíza Martins Neiva defende a lei do preço fixo para livros: "Temos que brigar para que essa lei seja aprovada e colocada em prática". Para ela, a idéia de uma livraria pequena numa quadra comercial tem um quê de romântico. "Não posso dizer que a loja é rentável. Só continuo porque fechar a livraria seria como tirar um pedaço de mim", confessa. Márcio Castagnaro é mais otimista: "Se livro não fosse um bom negócio, as grandes livrarias não estariam vindo para Brasília. Se a concorrência aumenta, temos que trabalhar mais, pois a cidade tem um grande potencial". Caso atípico é o da Briquet de Lemos. "Abri a loja depois de aposentado e com os filhos criados. A poupança me permitiu montar a loja aos poucos, sem correr riscos de me endividar", explica o exprofessor de biblioteconomia Briquet de Lemos. Especializada em arte e arquitetura, a livraria logo conquistou sua fatia de mercado. "Mas foi preciso paciência, muita paciência", admite. Para ele, as lojas pequenas continuarão a existir: "As quitandas – onde os funcionários o atendem pelo nome – não foram destruídas pelos supermercados".
Fonte: Jornal Correio Braziliense de 22 de junho de 2008.
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23 de junho: Dia da Língua Portuguesa
Foto: © Nações Unidas - Símbolo da CPLP
No dia 23 de junho de 2008 o Diretor-Geral da UNESCO, Sr. Koïchiro Matsuura, se reuniu com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para celebrar o Dia da Língua Portuguesa na UNESCO. Este evento foi organizado pela terceira vez pelo grupo de Estados Membros da UNESCO pertencentes à CPLP.
Em seu pronunciamento, o Diretor-Geral enfatizou a significância particular desta celebração em 2008, por ocasião do Ano Internacional das Línguas, “que a promoção e a proteção de todas as línguas, a diversidade lingüística e o multilingüismo estão dentre as questões que dizem respeito às Nações Unidas”. O Sr. Matsuura lembrou que a língua portuguesa está classificada em quinto lugar dentre as línguas mais faladas do mundo e dispões de um status oficial nas várias organizações regionais e sub-regionais. “Esta celebração do Dia da Língua Portuguesa [...] feita de maneira honrosa, ecoa à estratégia da UNESCO para a promoção das línguas e do multilingüismo”, afirmou ele.
"O multilingüismo exprime de fato o respeito mútuo e reforça o diálogo intercultural. A aquisição do conhecimento de fatores lingüísticos ocupa um papel central para que cidadãos participem da vida social e política, do acesso ao saber, do exercício da liberdade de expressão, do usufruto dos direitos fundamentais e da plena participação na vida cultural. Sendo assim, a língua é um pilar real do desenvolvimento sustentável e um espelho da diversidade cultural, em respeito aos povos e seu meio ambiente".
O Diretor-Geral, então, evocou o slogan escolhido pela UNESCO para celebrar o Ano Internacional das Línguas: “As línguas importam!”. Expressando-se em português, o Sr. Matsuura concluiu sua fala citando o poeta português Virgílio Ferreira, "Uma língua é o lugar de onde vemos o mundo e de onde traçamos os limites de nosso pensamento e de nossa sensação".
"O multilingüismo exprime de fato o respeito mútuo e reforça o diálogo intercultural. A aquisição do conhecimento de fatores lingüísticos ocupa um papel central para que cidadãos participem da vida social e política, do acesso ao saber, do exercício da liberdade de expressão, do usufruto dos direitos fundamentais e da plena participação na vida cultural. Sendo assim, a língua é um pilar real do desenvolvimento sustentável e um espelho da diversidade cultural, em respeito aos povos e seu meio ambiente".
O Diretor-Geral, então, evocou o slogan escolhido pela UNESCO para celebrar o Ano Internacional das Línguas: “As línguas importam!”. Expressando-se em português, o Sr. Matsuura concluiu sua fala citando o poeta português Virgílio Ferreira, "Uma língua é o lugar de onde vemos o mundo e de onde traçamos os limites de nosso pensamento e de nossa sensação".
Fonte: UNESCO Brasil
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