segunda-feira, 30 de junho de 2008

A Economia em Pessoa e em Machado

O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, debruçou-se sobre a obra de dois dos maiores escritores em português para descobrir o que eles pensavam sobre economia.
Eles estão entre os autores mais consagrados da nossa língua: o português Fernando Pessoa e o brasileiro Machado de Assis. Ambos se tornaram célebres por abordarem as angústias, os desejos, expectativas e frustrações humanas. Mas Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, revela que Pessoa e Machado também se preocupavam com problemas, digamos, mais concretos. Ele reuniu em dois livros as opiniões sobre economia dos escritores. Em 'A Economia em Pessoa', discorre sobre as
idéias liberais do autor de Mensagem, e em 'A Economia em Machado de Assis' fala sobre o olhar oblíquo do acionista pessimista e irônico em Machado.
"Acho que Pessoa é pedagógico. São textos escritos num período de tempo curto, seis meses, de uma publicação mensal, em que ele quer ensinar economia e administração de empresa. Machado, não. Machado não queria ensinar economia a ninguém, era um observador, oblíquo, irônico. Nesse sentido, é uma observação muito mais leve, próxima do cidadão comum", diz Franco.
Fernando Pessoa costumava assinar seus poemas com nomes falsos, chegou a usar 70 heterônimos, mas era o seu nome verdadeiro que aparecia nos artigos sobre Economia, publicados em 1926, numa revista de comércio e contabilidade.
Entusiasta do progresso, da evolução industrial e comercial, Pessoa, segundo Gustavo Franco, antecipou temas como marketing e globalização. Para Pessoa, o comércio entre as nações também estimulava a troca de informações e idéias.
"Uma vez que meio o comércio traz pra dentro de casa multiculturalismo, traz outras influências sobre a cultura, que cria uma efervescência que, aliás, na época era bastante óbvia".
O poeta era contra a intervenção do estado na economia, como no trecho de Fernando Pessoa: "É, pois, evidente que quanto mais o estado intervém na vida espontânea da sociedade, mais risco há, se não positivamente mais certeza, de a estar prejudicando."
Já Machado de Assis levou para as "crônicas econômicas" a ironia presente em seus principais contos e romances.
Para Gustavo Franco, Machado tinha, em relação à economia, o mesmo olhar oblíquo que caracterizava uma de suas principais personagens, a Capitu de "Dom Casmurro".
"Machado nunca é assertivo... Nunca é defensor de teses nem polêmico, é sempre arrevezado, lateral, irônico, tem um olhar sobre o que é moderno que, às vezes, parece exaltar, às vezes criticar. Por conta disso, é mais aberto, o leitor tá sempre pensando no assunto. Ele é mais instigante".
Inspirado no "Sermão da Montanha", Machado de Assis chegou a escrever um "Sermão do Diabo", uma crítica a abusos cometidos por homens de negócios.
Ele chega a recomendar que se venda gato por lebre. E mais: "assim, se estiveres fazendo as tuas contas, e te lembrar que teu irmão anda meio desconfiado de ti, interrompe as contas, sai de casa, vai ao encontro de teu irmão na rua, restitui-lhe a confiança, e tira-lhe o que ele ainda levar consigo".
No site de Franco há disponíveis trechos de 'A Economia em Machado de Assis' e resenhas sobre 'A Economia em Pessoa'.
Gustavo Franco estará em Paraty durante a FLIP 2008. Na sexta-feira, dia 04/07, ele autografa o seu livro 'A economia em Machado de Assis' e conversa com o público sobre as crônicas que o escritor publicou em jornais da época, comentando, entre outras coisas, a situação econômica do período. Na Casa de Cultura de Paraty, às 18h. Imperdível!

Fonte: página de Gustavo Franco e de Jorge Zahar Editor. Texto de matéria do Jornal da Globo de 20/12/2007.

Um comentário:

Elizabeth Maia disse...

Nossa, que blog bacana! Achei o link do perfil da Mariane, no orkut. Adorei, e voltarei! Um abraço.