quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Livros no Oscar

Avalanche de filmes baseados em obras literárias indicados ao Oscar movimenta mercado editorial

Não é de hoje que a literatura é fonte inesgotável de inspiração para o cinema. Mas neste ano o número de filmes indicados ao Oscar cujo roteiro foi adaptado ou inspirado em livros impressiona. Segundo editores ouvidos pelo GLOBO, se o filme é bom, ele é capaz de alavancar as vendas de livros. O contrário também acontece: quando o filme é ruim, potenciais leitores perdem interesse na obra.

Na longa lista de roteiros adaptados estão "O leitor" (Record), romance do alemão Bernhard Schlink, publicado em 1995, cuja adaptação cinematográfica concorre a cinco Oscars; o conto de Scott Fitzgerald que inspirou "O curioso caso deBenjamin Button", que faz parte da coletânea "Seis contos da era do jazz e outras histórias" (José Olympio), indicado em 13 categorias; "Quem quer ser um milionário?", candidato a 10 estatuetas e baseado em "Sua resposta vale um bilhão" (Companhia das Letras), de Vikas Swarup, e "Foi apenas um sonho", baseado no livro homônimo de Richard Yates (Objetiva/Alfaguara) e indicado a três Oscars.


Uma crise na criação de roteiros pode ser o impulso para uma procura maior de boas histórias na literatura, segundo Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record.

- Em geral, quando o filme é bem feito e bem distribuído, seu lançamento causa um efeito positivo sobre o livro. Um exemplo disto é "Meu nome não é Johnny", que antes do filme havia vendido 7 mil exemplares e, após a estréia da adaptação, chegou a 70 mil. No pólo oposto, está "O código Da Vinci". O filme, se não prejudicou, não ajudou em nada o livro - explica Luciana.

A Record, que publica "O leitor" no Brasil, acredita que nas próximas semanas o livro entre na lista dos mais vendidos, graças ao filme. No Estados Unidos, após a estréia do filme, o livro de Bernhard Schlink chegou ao segundo lugar na lista dos mais vendidos.

Especializada em clássicos da literatura nacional e internacional, a editora José Olympio relançou junto com o filme "O curioso caso de Benjamin Button" uma nova edição da coletânea "Seis contos da era do jazz e outras histórias" com uma cinta informando ao leitor que o livro contém o conto no qual o filme foi inspirado.

O sucesso do filme fez com que a primeira edição de tiragem média do livro (cerca de 4 mil exemplares), se esgotasse em 15 dias. A editora Maria Amélia Mello já prepara uma segunda edição, com o mesmo número de exemplares.

- Trata-se de um filme bem feito, inpirado na excelente obra de um grande autor (Scott Fitzgerald). É uma conjugação de fatores que faz com que a vendagem cresça. Aproveitamos a oportunidade (o lançamento do filme), para lançar o livro com nova diagramação, formato e capa. O filme coloca o livro em evidência e atrai um público mais amplo, que não é o tradicional leitor de clássicos - explica Maria Amélia, completando que apesar do pico nas vendas, o livro de Fitzgerald tem vida própria e está no catálogo da editora desde os anos 80. - Não se trata de um best seller e sim de um long seller.

Quando as pessoas se encantam com o filme, vão atrás do livro que o inspirou, avalia Rosemary Alves, editora comercial da Bertrand Brasil, que lançou no Brasil o livro reportagem "Gomorra", de Roberto Saviano.

O filme baseado no livro não entrou na lista de indicados a melhor filme estrangeiro, o que gerou protestos de críticos. No entanto, o livro tem se mantido entre o terceiro e o quarto lugar na lista dos mais vendidos no Brasil.

- Não compro o direito de publicação de um livro porque ele vai ser adaptado ao cinema. Compro porque acredito que o livro mereça ser publicado. Foi assim com "Moça com brinco de pérola" e "Gomorra". Os dois livros são ainda melhores que os filmes - diz Rosemary, citando um exemplo do contrário. - O filme "A casa dos espíritos", baseado na obra de Isabel Allende, foi uma decepção. Às vezes as adaptações ajudam, outras vezes atrapalham.

É mais comum que as pessoas que veem o filme comprem o livro do que o contrário, avalia Rosemary. A editora acredita que o sucesso de vendas de "Gomorra" não se deve ao filme, que entrou em cartaz em um circuito bastante restrito e foi visto por pouco mais de 60 mil espectadores, bem menos que "O curioso caso de Benjamin Button", que já atraiu um público de mais de 1 milhão de pessoas.

Interessante notar que no mercado editorial a relação entre os dois filmes é inversa: "Gomorra" está no topo da lista de vendas, enquanto é provável que "Seis contos da era do jazz e outras histórias" não chegue lá.

Fonte: Jornal O Globo

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